Na vida fui apenas Maria
Fui uma menina de nome Maria
E tive uma irmã que ainda está na terra
Ela chama-se Lourdes
A alma dela é linda!
Uma alma de anjo...
Simples com o a flor de algodão
Nós duas em plena inocência
Eu com 04 anos e Lourdes com 02 apenas
Perdemos nossa mãe Francisca
Que morreu de parto!
Aos 20 anos de idade
Juntamente com nosso irmão.
Nossa Mãe era linda e meiga...
Linda Mulher menina!
Mas Deus não permitiu que ela nos criasse
Nossa vida, daí pra frente foi muito dura...
Vivíamos no campo trabalhando na roça
Eu não sei como? Mas logo aprendi a ler e escrever!!!
Coisa rara, naquela época... no mundo dos camponeses...
Além, desse mérito, aprendi costurar, bordar, fiar algodão, fazer crochê etc.
Minha irmã Lourdes nada disso aprendeu e sofria muito com nossa madrasta...
Mas eu me sentia feliz! Tinha muitos talentos e com eles ganhava o sustento da minha vida de menina moça.
A nossa madrasta tinha quatro filhos com nosso pai , três meninas e um menino,
E u os adorava, principalmente a menina morena de olhos da cor de jabuticaba
Que era muito sapeca, mexia em tudo que eu tinha
E aprendia qualquer coisa que me visse fazer...Ela era minha adorada irmã!
Me chamava de Ia! E toda noite me dava a benção!
Dormia numa rede bem perto da minha e de Lourdes.
E fui eu quem lhe ensinou a rezar,O Pai nosso,O terço, A Salve Rainha,O Credo, Etc
Eu estava com 19 anos quando me apaixonei por um moço e me casei com ele.
Esse jovem não foi um bom esposo, e me privava de muitas coisas...
Pra ele eu sempre estava em falta...
E dele eu tinha muito medo...
Ele gostava de caçar... e se voltasse se uma caça, ficava violento!
Eu sofria sozinha e calada...
Nossa casa era de taipa,
Com quintal de varas em pé amarradas com cipó.
Mesmo morando nessa tapera, eu gostava dela
E a arrumava com muito esmero....
Tudo lá era lindo!
Nas janelas tinha latinhas com flores de nove horas.
E nos pés das paredes, tinha bom-dia, boa noite e crotes coloridos
No quintal, tinha árvores ainda jovens
Tinha o galinheiro, que eu cuidava com amor...
E eu, ainda plantava tudo que fosse medicinal....
Ou pudesse dar gosto as comidas.
Então, tinha: hortelã, capim - santo, arruda, cebolinha, coentro
Dentre muitos outros que não lembro mais o nome...
Eu vivia sempre costurando, pra fora e pra casa
Também sempre estava grávida e sozinha...
Ninguém me olhava!
Minhas duas irmãs paternas, Fátima e Neide
Agora mocinhas, sempre me visitavam
Mas eu via nos olhos delas a tristeza por minha vida...
Pra elas e pro mundo... eu sorria sempre.
Nessa época eu já tinha tido 04 filhos.
Duas meninas e dois meninos.
E para todos eles, eu sorria em vez de chorar...
Agora! Eu já esperava meu 5º filho!
E estava com muito medo...
Pensava em morrer igual a minha mãe
Na hora do parto! Mas eu ficava calada.
Não tinha a quem contar!!!
E se eu de fato morresse?
Ainda menina moça!
Uma cigana pediu pra ler minha mão...
E eu a deixei... E pra meu pavor !!!
Ela me disse que eu morreria ainda jovem e de parto
Igual a minha mãe!
Isso me assustou!!! E me acompanhou sempre...
Agora tenho 28 anos, estou sentindo dores ...
As dores do parto! Vai chegar meu 5° filho
Fui pro hospital lá na cidade... Fiquei sozinha!!!
Ninguém podia ficar comigo.
Era norma do hospital.
E lá passei uma semana.
Não pude mais vir em casa, estava anêmica.
E com pernas, pés e mãos muito inchadas!
Corria risco de morte! Mas Nenhum médico ou enfermeira me esclareceu...
No dia 08 de dezembro, data que se comemora com muitas festas
O dia de Nossa Senhora da Conceição!
Padroeira de Pau – dos - Ferros/RN,
Cidade onde fica o hospital em que eu estava internada pra dar a luz.
Naquele dia minhas dores aumentaram e com muito sofrimento
E tão só! Pedi ajuda a Nossa Senhora e a todos os Santos
Mas não melhorei! Via a morte! Mesmo assim, ainda em vida
Tive meu filho! E após alguns minutos pude contemplá-lo...
Mas por pouco tempo... Pois algumas horas depois,
Tive um eclampse! E dele não sobrevivi...Meu filho ficou vivo...
E sem mim...Num bercinho do hospital. E eu fiquei ali
Até minha família tomar conhecimento e vir nos buscar
Depois que eles chegaram, meu espírito ainda foi até minha casa
Chegando lá! Abracei e beijei cada um dos meus filhos!
E com lágrimas nos olhos... e infindas saudades...
Voei levada por Deus para a eternidade...
E do mundo não me lembro mais!
Porque aqui no paraíso minha vida recomeçou...
E não há tristeza nem dor!
Fátima Alves/Poetisa da Caatinga
Natal/13/05/2011
Uma forte inspiração me perturba há muitos dias e me pede para que eu escreva a vida da minha Irmã Maria, essa que me ensinou a rezar, costurar, cozinhar etc.
Para Minha querida irmã Maria Ferreira de Sena ( Minha irmã Sorridente)
EU NUNCA IREI TE ESQUECER... E SEMPRE VOU TENTAR CUIDAR DOS TEUS FILHOS E NETOS
E até o meu dia...
Saudades eternas! De Seus filhos e familiares...
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 08/07/2023