Aprender a conviver com as peculiaridades da Geografia do semiárido
Nós do semiárido pouco sabemos sobre a importância de respeitarmos as peculiaridades da Geografia da nossa Terra. Estou falando do ponto de vista científico. Pois na visão popular sabemos muito, e temos também muita coisa para ensinar aos pesquisadores. Porém, essa nossa civilização "MODERNA", inventa práticas enganosas que levam nosso povo a derrubar grandes extensões de mata, simplesmente para fazer carvão e vender quase de graça para churrascarias, pizarias, restaurantes, e principalmente para as fábricas de cerâmicas. Também se derruba a mata para vender estacas que servirão para fazer cercas com arame farpado. tudo isso parece pouco, mas são justamente essas práticas que vêm desertificando vários pontos do semiárido.
E existem outras a meu ver, ainda bem mais danosas, nas quais a mata é derrubada em grandes extensões, para nascer pasto( plantinhas rasteiras) ou plantio de capim, destinado a criação de gado leiteiro e principalmente, de bois e vacas para abates ( cortes). Uma triste realidade, que não me permite mais há vários anos, comer carne vermelha, uma vez que percebi essa crueldade, na qual em nome do lucro, somos incentivados a tê-la em nossa mesa todos os dias da semana. Porém, quase ninguém percebe que o simples ato de comer carne todo dia, além de ser prejudicial para a saúde, vai exterminando a mata, acabando da terra, seus nutrientes, tornando-a infértil e nos trazendo no futuro, vários desertos como prêmio pela nossa "RACIONALIDADE IGNORANTE".Com tantos saberes, se omitem ou não querem ver a finitude dos recursos naturais do lugar onde vivemos.
Eu vivi, 20 anos no campo, numa linda Serra, a comunidade era familiar e tinha práticas comunitárias nas quais todo mundo se ajudava. A mata era derrubada e queimada, para se fazer o roçado, mas em porções suficientes para a nossa sobrevivência. E considero, que nossa vida tinha muita qualidade, bastava apenas ter chuva suficiente para assegurar a colheita. Se não tivesse, passaríamos até muita fome, mais isso, é outra questão, trata-se da falta de políticas de Estado, voltadas para a prevenção das secas, uma vez que estas, podem ser processos naturais e fazem parte do Bioma Caatinga. Esse manejo da terra, que os pequenos agricultores ainda usam, permite que depois da colheita , a roça seja plantada mais uma vez, depois vira capoeira, (um termo do meu lugar) e vai descansar por vários anos. Voltando novamente a ser mata. É uma prática popular dos pequenos camponeses, que de certa forma respeita a natureza, retirando dela só o necessário.
E atualmente, as terras da nossa antiga comunidade, hoje é mata fechada com fauna e flora preservada, porque seu povo a usou de forma equilibrada e sem ganância . E como eramos uma comunidade familiar e pobre, veio uma temporada de seguidas secas e aos poucos, esse nosso povo foi migrando para outros lugares, até enfim, sair a ultima família. E quem saia, vendia suas terras, Meu pai foi o penúltimo a sair dali. Em seguida sua irmã. E depois, extinguiu-se A Comunidade Batalha, que vivia num lugar chamado Serra das Almas, Localizada no município de São Miguel/RN. E foi lá onde nasci e prendi a conviver com muitas leis da natureza, sem precisar de ir aprender na academia... Lá a gente aprendia imitando e seguindo as práticas dos mais velhos...
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Fátima Alves / poetisa da Caatinga
Natal, 03 de março de 2012
Postado por Fátima Alves Poetisa da Caatinga às terça-feira, outubro 23, 2018 no Blog vozespoeticasdacaatinga
Foto de poetisa da Caatinga
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 09/03/2019
Alterado em 23/03/2019