Reciclar e reaproveitar, é reduzir os impactos ambientais do consumismo desnecessário
Me sinto amante da Terra desde o início da minha infância, e sem necessariamente entender, nem precisar estudar na academia, fui aos pouco na escola da vida, me tornando ambientalista, no sentido de saber reaproveitar os recursos que a natureza nos oferece e que os mesmos são finitos.
Meu pai além de agricultor, é artesão de várias matérias primas dentre elas, o flandre. E na minha infância e adolescência, ele comprava latas de óleo, de leite, de sardinha, de querosene e outras mais. Com essas latas, quando ele tinha tempo, fazia lindas bacias, baldes para utilidades diversas, lamparinas, funis, canecos para fazer café, chá etc.
No meu lar nada se perdia, tudo era reaproveitado ou reciclado. E uma vez feita a transformação de lixo em objetos úteis, meu pai juntava vários itens e nos sábados ia Vendê-los na feira. Muita gente não conhece ou nunca irar conhecer, esse tipo de artesão que popularmente era chamado de flandeiro, e papai é um desses. Tudo o que ele faz em flandres, ele também faz em zinco, porém, o zinco era caro, no entanto, papai reciclando as latas, os mais pobres podiam comprar seu artesanato dele, porque era bem mais barato. E claro que durava menos do que o zinco, mas eram peças lindas. E tem mais não poluíam a Terra, porque ao se furarem viravam lindas jardineiras, até que enfim, a ferrugem destruía o objeto e o incorporava novamente na terra...
Eu achava minha casa horrorosa, porque tinha centenas de latas de todos os tamanhos e todo mundo vinha vender suas latas lá em casa. Isso era um horror para o visual do nosso lar e eu me estressava, detestava aquele trabalho de papai. Mas há muito tempo compreendi que papai era, mesmo sem perceber um agricultor e cuidador da natureza...”Um Artista de Mãe Terra”. Ou quem sabe? Um anjo verde, com um dom dado por Deus. Porque ninguém lhe ensinou, ele apenas viu alguém fazendo, e aprendeu essa arte ainda adolescente.
Mas com o advento do plástico, aos poucos começou a aparecer um caminhão vendendo tudo que papai fazia, só que em plásticos coloridos, e como ninguém na época era esclarecido sobre os danos do plástico para a natureza, os flandeiros que já eram poucos, (havia apenas três na minha região) foram sendo desprezados. E em dois ou três anos, pouca gente procurava os serviços dos flandeiros. E antes que esta profissão se extinguisse, papai tentava fazer de tudo para eu aprender, porque minha coordenação motora fina e os cortes retos feitos com as diferentes tesouras, era notável em tudo que eu fazia, mas ele não me convenceu. E Infelizmente nenhum dos seus 10(dez) filhos,06(seis mulheres e quatro homens) quis aprender fazer esse tipo de artesanato. Quase todos da minha casa são artesãos, porém, de outras coisas, ninguém quis ser flandeiro (a) e mostrar para Mãe Terra que era melhor usarmos os objetos de flandres ou de zinco, do que estes coloridos de plástico.
Atualmente, papai vai completar 85 anos, e agora ele reaproveita latinhas de cervejas, e com elas faz coisas belas, como: panelinhas de pressão de brinquedo, cinzeiros, lindos copos para enfeites e outras coisas. Hoje admito e peço perdão a papai, por não ter aprendido seu ofício. Mas vale salientar que Deus me compensou com outros tipos de reaproveitamento e reciclagem. Faço coisas incríveis, isto é, criativas e belas, com garrafas petys, papelão, embalagens de plásticos vazias, papel, caixas de leite e outros materiais.
Fátima Alves: Poetisa da Caatinga
Natal, 15.03.2012
Obs: Texto avaliativo, elaborado no meu curso Educação Ambiental e Geografia do Semiárido (IFRN)
Foto: Artesanatos de papai(bacias e outros) Foto de poetisa da Caatinga
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 19/06/2013
Alterado em 21/08/2013