Fátima Alves-Alma sensível e Poetisa da Caatinga

Poesias e prosas(sentimentos à flor da pele)

Textos


 As bonecas e bonecos de cor negra

Que tal procurarmos! 

Onde estão? Encontramos fácil, esses brinquedos?
             Há mais de dez anos coleciono bonecas e bonecos negros (as). Esta coleção é de cunho educativo, onde através dela, mostro as crianças, adolescentes e professores e pais, que em nosso país( Brasil) existe o preconceito racial em fabricar esses brinquedos. Posso afirmar essa questão, porque observo e trabalho com ela nas escolas, as expondo e falando de muitas questões preconceituosas, que nós educadores parecemos não enxergar ou fazer vista grossa.
 
              É obvio que todos nós temos algum tipo de preconceito, uma vez que esta palavra significa desconhecimento, ignorância sobre algo, ou seja, pensamentos e conceitos precipitados, sem aprofundamento reflexivo. Pois bem, creio que de modo geral, sempre haverá em nós a presença de algum preconceito, afinal, ninguém sabe ou saberá de tudo. Porém, o preconceito étnico existe claramente na nossa sociedade, só não ver e combate quem não quer. Sendo assim, entendo que o preconceito contra o negro massacra sua própria alma. E somos nós humanos quem alimenta esse tipo de preconceito.

Voltando  à coleção de bonecas e bonecos de cor negra
           Quando comecei a colecionar esses brinquedos, já foi com a intenção educativa de combate ao preconceito logo na infância. Vejamos bem! A minha coleção nunca chegava a 10 (dez) tipos de bonecas e bonecos diferentes. Eu só encontrava os tipos que já tinha, e sempre bebês, parecendo nos dizer que a pessoa negra só e bonita enquanto for criança de colo. Em toda loja eu reclamava e ainda reclamo dessa questão das bonecas e bonecos negros (as) não crescerem e também raramente encontrar um boneco, até agora só tenho 04 (quatro) bonecos em uma coleção de 32. O restante, a maioria, é constituída por bebês, e apenas 04 (quatro) bonecas são adolescentes e só 03 (três) adultas.
 
              Essa minha coleção vem sendo construída lentamente. Portanto pude observar que após Barak Obama ser eleito presidente dos Estados Unidos, aqui nas lojas de Natal, começou aparecer vários tipos de bonecas negras, entre elas, umas adolescentes com jeito americano. Chegou também chegou a Barbie negra, moça e a Barbie negra mãe com uma filhinha. Foi nesse período que minha coleção cresceu chegando a 32 tipos. Porém saliento, que apesar deste pequeno avanço, ainda é difícil encontrar uma boneca que eu não a tenha, pois poucas são fabricadas, não sei ao certo o percentual, mas vejo comumente as caixas das bonecas mostrarem a versão negra, quando procuro a vendedora ou vendedor, ela ou ele diz que vieram poucas e já foram vendidas. Isso me deixa indignada, pois as crianças de um modo geral precisam ter acesso a bonecos e bonecas de todas as etnias, principalmente as negras, porque nossa população é miscigenada, e assim a criança negra fica sem as referencias de seus membros familiares no ato de brincar. Sendo inconscientemente obrigada a embalar e cantar para uma boneca loirinha e de olhos azuis ou verdes, gerando um preconceito contra ela mesma.
 
              Sobre esta problemática, vejo que as mães de crianças negras, no geral não ligam para essa lacuna no brincar dos seus filhos e filhas. Também vejo que quase ninguém presenteia uma criança com uma boneca negra, porque tem medo do presente ser rejeitado e causar transtornos em festas de aniversários. Esse claro preconceito a meu ver, tem relação com todos os demais preconceitos raciais existentes no nosso País. E por isso desenvolvi esse meu pequeno projeto, que mesmo simples tenta combater o preconceito racial logo na sua raiz, isto é, na infância. Pois nenhuma criança nasce com preconceitos, somos nós adultos quem os transmitimos para elas. Por isso acho que a escola e a família são dois lugares primordiais para se trabalhar o direito a igualdade na diferença racial.
 
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Maria de Fátima Alves de  Carvalho - Poetisa da Caatinga
Natal: 27.02.2013
Foto de minha autoria


 
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 27/02/2013
Alterado em 17/08/2020
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