No tempo em que os bichos falavam...muitas coisas incríveis aconteciam e o mundo natural onde eles viviam , seguia o equilíbrio próprio da cadeia animal. Mas houve uma era em que os bichos humanos apareceram naquele habitat. E sua presença mudou para sempre a vida desse mundo selvagem e equilibrado.
Certa vez, em uma primavera, os animais ( chamados de bichos brutos pelos humanos) estavam bem alegres e combinaram em fazer uma grande festa para comemorar a chegada da estação das flores. Então, eles queriam fazer uma festa onde todos os animais pudessem comparecer, e ficar em harmonia, sem que houvesse as perseguições naturais da cadeia alimentar. O lugar escolhido para fazer a reunião foi na praia que ficava perto da floresta e ao entardecer, não teria sol forte e comportaria bem todos os animais convidados De cada espécie animal foi chamado um representante. E todos concordaram, em se unirem para fazerem essa festa , bem como o lugar. E daí, em diante, repeti-la todo ano. Tudo ficou assim, acordado entre os presentes.
E começaram a organização da festa. E foi aquela correria pois, cada um dos presentes ficou responsável por uma ação. E a primeira coisa que se precisava fazer era avisar a todos os grupos de diferentes animais , da floresta , dos rios e do mar que ficava ali pertinho e com suas águas, banhava a praia e ventilava com brisa suave a floresta.
Então lá se foram todos eles para avisar sobre a grande festa que resolveram fazer para a primavera. Cada animal avisava a sua espécie. A pulga avisou a todos os insetos. O elefante informou a todos os animais de grande porte. O pombo a todas as aves. O camaleão a todos os repteis... A gaivota a todas aves que vivem sobrevoando o mar e morando nos rochedos da praia. A baleia a todos os moradores das águas profundas do mar. E assim, sucessivamente.
Mas os animais, não incluíram como convidados, os bichos humanos. E até os esqueceram, porque estes tais bichos humanos, estavam longe deles... E se caso chegassem perto deles, era apenas para explorá-los, levar para cativeiros e pior ainda, para matá-los e comê-los. Por isso, ninguém nem sequer, lembrou-se desses tais humanos, que agora existiam...
Passaram - se alguns dias... E chegou o grande dia! Tudo foi organizado como tinha sido combinado. O lugar escolhido na praia estava lindo. Havia , flores , conchas, sementes, frutos, água doce, tudo de bom da floresta. Cada grupo de animal, trouxe um pouco da sua comida e flores do seu habitat para a festa. Tudo ficou belo! Flores! Tinha de todas as cores! E com elas, desenharam até mesmo um arco íris, com flores de sete cores.
E começou a festa, todos cantavam e dançavam do seu jeito. Os animais do mar, faziam piruetas e mandavam suas águas dançarem com saias rendadas e deixarem plantas aquáticas. Já os animais e do rio que ali estavam na foz, e os da floresta que estavam na praia perto da foz, lhes jogavam flores e petiscos de frutas. Nesse dia não havia carnes, só flores frutos e ramos verdes, e plantas do mar e do rio.
Enquanto todos os animais, comiam e bebiam felizes... Veja só quem resolveu aparecer? Os verdadeiros bichos devoradores de vidas! Os bichos homens! Que ao saberem dessa festa, ficaram furiosos! E por não terem sido convidados, pois não podiam ficar fora de uma festa, da qual eles tirariam muito proveito. Resolveram ir acabar a alegria dos animais. E para se foram...
Mas, ainda bem, que eles chegaram já quase no final da festa. E houve tempo para muita alegria! Pois, logo que chegaram, acabaram com a alegria da festa. Todos os animais fugiram as pressas. E a festança! Não teve o final esperado. Mas valeu a pena, esse momento de confraternização da natureza. Daí pra frente, quando chega a primavera, cada espécie faz sua festa de forma disfarçada, e em lugares diferentes, para se se livrar da presença do “bicho homem”. Uma tristeza reflexiva para quem ama a natureza...
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Maria de Fátima Alves de Carvalho/ Poetisa da CaatingaNatal - 1994
Para minha filha Ana Sara
Texto publicado na Coletânea Conte outra !? da Editora PerSe - 1ª edição - 2019.
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 08/11/2012
Alterado em 17/08/2020