A Felicidade pode ser comprada?
A felicidade, busca natural do ser humano, é algo subjetivo, porém, é ao mesmo tempo tão concreto, pois ela ao meu ver, é visível, e só tem sentido se for vivenciada no seio do mundo coletivo( na família, na calçada, na rua, no bairro, na cidade...) E sendo ela, fruto de políticas éticas e morais de cada sociedade, e do país, ou de todos os países do planeta. Segundo MORIN,( 2007 ) “Os tempos modernos produziram deslocamentos e rupturas éticas na relação trinitária indivíduo/ sociedade/ espécie”.
E essas rupturas trouxeram como consequências, grande destruição para a vida na terra, e deturpação do significado da palavra FELICIDADE, de forma que ao se destruir o equilíbrio natural do planeta, nos esquecemos ou fingimos esquecer, que tudo o que existe na esfera terrestre é patrimônio de todos, principalmente das futuras gerações que ainda irão nascer. A ética é ligada a moral, e isso esta em decadência nas sociedades, ditas modernas e superdesenvolvidas. Estamos destruindo nosso mundo de forma voraz, por atos egoístas e inconsequentes. Afirma MORIN, ( 2007 ) que:
“Ao pensarmos sobre a ética devemos perceber que o ato moral é um ato individual de religação; essa religação se dar com o outro, com uma comunidade, com uma sociedade e no seu limite, religação com a espécie humana”.
A felicidade não pode ser comprada, ela deve ser vivenciada logo nesses nossos pequenos mundos, mas para isso, é preciso que na sociedade existam políticas éticas-morais que garantam os direitos básicos dos seres humanos , antes mesmo deles nascerem. Porque se nascemos em situação de miséria, vamos sofrer toda a infância, justo, o período mais curto e precioso do nosso viver. E sem dúvida teremos sérios prejuízos nos processos de aprendizagem escolar. FREIRE (1922, pg.12), quando fala da importância do ato de ler, ele nos mostra que a leitura e a compreensão do nosso pequeno mundo, esse que nos recebe, nos envolve, nos protege e nos ensina, antecede a leitura das palavras alfabéticas ( leitura convencional) e diz:
“A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler” o mundo particular em que me movia – e até onde não sou traído pela memória – me é absolutamente significativa. Neste esforço a que vou me entregando, re-crio, e revivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós- à sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos menores e aventuras maiores.”
Essa citação do autor, me reporta ao vídeo assistido, ( felicidades gratuítas x Felicidades compradas) onde a menina, de repente sai sozinha pelas campinas e se deleita na magia contagiante de felicidade que aquele mundo lhe oferece, a cada descoberta. Tudo ali é puro encantamento... e ela estar lendo o seu pequeno mundo, onde nele vai se integrando de forma natural, a cada ser daquele espaço de natureza pura, onde ela vive. Coisa rara atualmente, até mesmo nas pequenas cidades. E enquanto a menina vai desvendando a felicidade daquele mundo, outras crianças, a esperam na porta de casa, e aparentemente estão ansiosas pela sua volta. Mas ao vê-la voltar bem e feliz! Ficam abismados, e uma outra criança sai do grupo que mostra-se aprisionado pelo medo, e vai correndo a seguir o caminho da menina.
Na realidade assisti 03 (três) vezes o filme, e não o entendi direito. Fiquei na Dúvida? São crianças urbanas, que moram perto de alguma reserva natural, mas ninguém se interessa em mostra-las? São crianças que devido seus pais trabalharem fora, e pela necessidade, ficam sozinhas trancadas em casa, umas cuidando das outras? E pelos perigos que a rua oferece são orientadas pelos pais a não saírem nem mesmo nas calçadas?
E nessa sociedade urbana , onde a maioria do seu povo é alienado e dominado, há lugares seguros para a infância se desenvolver num clima de felicidade natural, verdadeira e plena? É possível reconstruirmos ou trazer de volta, tudo que se vem retirando ou destruindo da infância, principalmente o direito de estar com uma pessoa adulta e de sua família para lhe olhar, cuidar e lhe servir de proteção e referência para a vida adulta.
Felicidades vendidas e compradas A criança como objeto de consumo
Em todo percurso que estamos fazendo para compreender a infância de hoje, podemos constatar que a criança vem sendo moldada gradativamente pelas regras e imposições estabelecidas pelos adultos frente às concepções vigente em cada época. Sendo assim, ela é educada, controlada e modificada para atender as exigências de cada sociedade. Após uma retrospectiva das condições de desenvolvimento oferecidas para a infância no decorrer dos tempos, vemos com nitidez a função cênica da criança nos dias atuais. No entanto, o mundo de hoje corre desenfreadamente em busca de um lucro ganancioso, lucro que não entra na maioria dos lares das crianças, para lhes dar uma melhor qualidade de vida. É esse interesse capitalista que move a maioria das sociedades. E portanto, a infância também é moldada e enganada pela ideologia desta sociedade desumanizada. LEVIN (2001, pg.45) ressalta o seguinte; “a criança começa a virar um objeto de consumo e, paradoxalmente, de sustentação familiar e social manipulável e adequável as necessidades do adulto”.
O autor nos faz perceber, que na atualidade criou-se para a criança, um reinado onde a mesma é levada a consumir o máximo possível, as ofertas do mercado capitalista. Este império consumista, imposto à sociedade, leva as famílias a submergirem suas crianças de uma forma alienante e equivocada, pois entendemos que não é a quantidade de brinquedos, nem tarefas escolares, nem medalhas esportivas ou o excesso de informações que vão constituir uma infância feliz e basilar para consolidar na fase adulta, a felicidade de cada sujeito dentro ou fora do seu grupo social, ao qual pertence.
E para concluir meu pensar sobre esse assunto de ordem subjetiva, mas que se pode viver em concretude... como sou poetisa e escritora, quero que aceitem minha citação, a qual, acabei de criá-la.
“ Felicidade não se compra, nem se vende. Ela vai aos poucos nos abraçando e conosco ficando, sem nada nos pedir em troca . Felicidade é vida regada com amor e que jamais será solitária, porque ela não é competitiva, e sim, solidária. E justo, por esse motivo, bate de frente com qualquer valor ou principio capitalista, pois todos eles estimulam a criança a acreditar inconscientemente, que a felicidade é um processo conquistado e vivido de forma individual, pelo poder próprio de cada um, no mundo das competições, onde nunca haverá lugar para todos. ” Fatima Alves/ poetisa da Caatinga potiguar (28.08.2011)
A infância, é o tempo mais curto da nossa vida, e não podemos cruzar nossos braços diante de uma questão tão séria, porque o adulto do amanhã será essa criança que enquanto sujeito foi construída nesse processo de desvalorização da felicidade gratuita, essa felicidade que a natureza, sem nada pedir, nos oferece, e nós simplesmente a destruímos.
Precisamos levantar bandeiras coletivas a favor da natureza e da nossa infância, pois serão eles os adultos conscientes que tentarão restaurar os estragos causados por seus antepassados, no caso, nós do século XX e também de parte do século XXI, pois já há, muitas bandeiras e algumas leis lutando pra valer contra essa sociedade de consumo inconsciente e desenfreado.
Texto produzido no meu processo avaliativo do Curso de pós - Graduação em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido ( IFRN).
Fátima Alves / Poetisa da Caatinga
Natal/2011
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 05/12/2011
Alterado em 06/01/2012