Se não fosse apenas no desejo...

Apenas no meu desejo...
Vejo-me de volta ao campo
Vivendo em plena paz
Plantando e colhendo sementes
Sentindo todo dia os cheiros da terra
No silêncio e grandeza da serra
Lá naquele lugar lindo
Onde Deus me fez nascer
E que tanto a gente sofria
Pela ausência de políticas
Voltadas para o povo do campo
E só por isso deixamos nossa terra
Apenas no desejo...
Contemplo a glória do nosso povo
Vejo estrada em vez de veredas
Vejo carros em vez de cavalos e burricos
Vejo energia elétrica
Vejo poços e barragens
Vejo a escola indo até lá
Em ônibus apropriado para tal fim
E depois me vejo sendo professora
Da escola que tanto sonhei pra meu povo
Vejo o médico e enfermeiros da família
Enfim,vejo a vida acontecendo feliz ...
Indo e vindo... porém, sempre voltando
Vejo tudo o que não tive...
E vislumbro com alegria
Nossas raízes ainda plantadas
No solo sagrado que Deus nos deu
Mas tudo isso,estar só no desejo...
Porque a minha comunidade
Há mais de duas décadas morreu
Sem nada do que falei ter sido
De fato conquistado
Ou até mesmo sonhado...
Diante dessa grande perda
Fico a pensar...
É preciso dignidade e incentivo
Para que o povo que vive no campo
Possa continuar vivendo lá
E que alguém só saia para a cidade
Por pura opção... e nunca por ser obrigado
A deixar seu mundo
Devido não ter supridas
As suas necessidades
Básicas de sobrevivência
Porque quem nasceu e se criou no campo
Com certeza, aprendeu a amar a terra
E sabe que ali
É o melhor lugar de se viver
Se as políticas públicas lá chegarem...
***
Fátima Alves - Poetisa da Caatinga
Natal, 24.02.2010
Texto publicado no meu livro "Retratos Sentimentais da Vida na Caatinga"
Edição do autor - 2010
Foto de Emanoel Milhomens

Essa foto, foi tirada no ano de 2009, quando fui lá resgatar um pouco das minhas lembranças....neste lugar onde estou,  é as ruínas da casa da minha tia Miguelzinha, a última pessoa da  família a abandonar nossa terra...