Fátima Alves-Alma sensível e Poetisa da Caatinga

Poesias e prosas(sentimentos à flor da pele)

Textos


Minha Serra - Meu mundo...

Nessa linda e imponente
Área serrana
Esquecida e isolada
Pelas barreiras naturais
Vivia meu povo
E entre esses rincões
Ou em cima das colinas
Guardiãs da serra mais alta
Existiam nossas casas
Na maioria feitas de taipa
E todas com piso de terra batida
Numa simplicidade sem igual...
Nesse lugar onde a alma da gente
Se mistura com a alma da natureza
Meu povo vivia a cantar
Suas alegrias e dores
E cantavam sempre
Para o vento
Para o sol
Para a lua
E para a chuva!
Para esta, além de cantar
Também a adoravam
Pois ela era a deusa da vida
E foi alí, nesse mundo isolado
De tempos secos e sofridos
Mas também de invernos fartos
Onde se vive em comum
A fartura e a miséria
Que minha estrela vida
Respirou... chorou...
E se acendeu!
Numa linda noite de inverno
Quando as estrelas do céu
Se escondiam felizes
E deixavam as nuvens
Banharem a caatinga
Nesse tempo que nasci
Era março! Mês de São José
E meu povo unido
Cantava e rezava para este santo
No campo já havia frutos nos roçados
Todos estavam felizes!
Relâmpagos e trovões
Festejavam nossa fartura
E esse momento terno e lindo
Minha fantasia mostra-me!
E eu o guardo em mim...
Mas muitos de nós nasciam
Em tempos diferentes
Tempos secos!
Sem chuvas!
Sem relâmpagos e trovões
E sem fartura...
Porém, quando uma de nossas estrelas
Ia nascer nessa situação
Todas as estrelas do céu se acendiam
E brilhavam com mais intensidade
A lua aparecia com seu véu de beleza
E o vento chegava cantando suavemente
A gente nem via! Mas o coração sentia!
E depois de ter partido deste lugar
Há quase trinta anos... Voltei lá!
Fui visitar esse meu sagrado chão...
E mesmo já sabendo
Que ninguém morava mais lá
Isso em mim, ainda não tinha sido elaborado
E no meu sentir...estava retratado como antes
Mas quando lá cheguei e não encontrei ninguém...
Nem nossas casas!
Apenas as ruínas de uma delas
Onde antes morava a família da minha tia
A qual foi a última a deixar nosso chão
Eu... sem encontrar minhas referências
Fiquei perdida naquele mundo
Que foi nosso...
Então de repente! Saí do meu tempo real
Para encontrar o meu lugar primeiro
Aí, meu coração retornou no tempo
E lá novamente se sentiu...
Viu os riachos cheio de crianças
Em tempos de inverno...
Foi até o olho d`água
Pegar água em épocas de seca
Lembrou da casa de farinha
Do cacimbão que ficava perto dela
Do trabalho em mutirão
Nos plantios e colheitas
Do cheiro dos currais dos animais
Dos pés de cajarana e seriguela
E das nossas noites animadas
Onde tínhamos a rotina de visita coletiva
Na qual todos os jovens se reuniam
Nas casas uns dos outros
Em alternância de quem visitava
E quem recebia
E lá conversávamos...
Ouvíamos rádio...
Dançávamos e namorávamos
Ao ver e constatar
O fim da nossa comunidade
Ah! Foi horrível!
Nem sei dizer o que senti...
Não era saudade...
Também não era tristeza...
Acho que era a falta das nossas raízes
Que o tempo arrancou uma a uma
E replantou longe da nossa terra
E meu coração! Simplesmente chorou...
Então naquele momento pedi a Deus
Que replantasse lá
As sementes da minha alma...
***
Maria de Fátima Alves de Carvalho - Poetisa da Caatinga
Natal, 16.01.2010
Texto publicado no meu livro "Retratos Sentimentais da Vida na Caatinga"
Edição do autor - 2010
Foto de minha autoria



 
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 17/01/2010
Alterado em 01/08/2020
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