Cuidei de um cravo...mas não consegui salvá-lo...
Penso que quando nasci, Deus me deu uma nobre missão: Ele disse pra minha alma viver andando pelo mundo e plantando jardins, mesmo nos terrenos mais áridos e inóspitos por onde eu passar. E assim tem sido a minha vida... Em todo lugar que ele me manda conhecer, planto um jardim pra que ali o amor floresça... e por muito tempo cuido da terra,esperando o brotar das sementes e a adaptação de inúmeras mudas. Lá, nesse espaço abençoado, o amor reina, mas é preciso coragem, porque o mal com olhos destruidores, deseja ceifar a alegria que existe nas vidas que crescem a cada dia. Por esse motivo, a vigilância tem que ser constante, mas mesmo assim, o mal consegue destruir algumas plantinhas desse singelo jardim e nesses momentos, fico muito triste, porque conheço e convivo com cada planta e tudo que desejo é vê-las felizes.
Nesses últimos anos, estou cuidando de um jardim em uma terra muito árida, lá trabalho triplicado pra manter as plantas alimentadas e as flores desabrocharem. As vezes, desejo que Deus me mande pra outro lugar, pois naquela terra, tudo é difícil demais e tanto o meu corpo como a minha alma já estão cansados. Mas Deus, sempre que me vê assim, envia alguém me trazendo uma nova plantinha, que chega lá quase seca, faminta e doente. Ao ver a situação da planta, minha alma se revigora e começo a cuidá-la, lhe dando o máximo de atenção para que ela se recupere. E a maioria se recupera, até de forma rápida, mas nem todas... algumas morrem, mesmo antes de florescer. Quando isso acontece, nunca estou preparada, fico mal por muito tempo, quero ir embora pra bem longe do jardim... E tudo que desejo, é entender porque Deus não lhe deu forças suficientes para que se recuperassem e conseguissem viver feliz, cumprindo seu ciclo biológico. Mas tudo que Deus me diz é que aceite a sua vontade e prossiga na missão. E assim continuo...
Lá, no meu sagrado jardim, tenho recebido muitos cravos e lírios famintos do bem e contaminados por pragas... ao recebê-los peço ajuda ao divino e logo surgem anjos em forma de humanos, os quais se dispõem a cuidar destas roseiras, mesmo sabendo que dificilmente irão se recuperarem. Mas em nosso jardim, enquanto há o sopro da vida, temos muitas esperanças... então, é talvez por isso, que recuperamos a maioria das nossas plantas. Infelizmente, hoje morreu mais um dos nossos lindos cravos, do qual cuidávamos com muito amor e esperávamos que ele se recuperasse. É difícil compreender, aliás eu não compreendo, apenas peço pra que Deus me faça aceitar a sua vontade e que me der forças suficientes pra suportar a luta constante no combate ao mal, que vez por outra, ataca algumas de nossas plantas, mesmo aquelas que já estão florindo...
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Fátima Alves - poetisa da Caatinga
Natal, 20.11.08
Texto do meu livro "Palavras Singelas e Encantamentos..."
Dedicado a Janderson -14 anos ( aluno de nossa escola-Morto hoje pela violência social)
Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 20/11/2008
Alterado em 06/02/2017