Fátima Alves-Alma sensível e Poetisa da Caatinga

Poesias e prosas(sentimentos à flor da pele)

Textos

Uma linda história de amor(Amor de vira-lata)
Uma linda história de amor...                      
                  (Amor de vira-lata) Só pra quem gosta de cães

        Desde a mais tenra infância aprendi a conviver com cães. E por todos eles, sinto um profundo amor, o  qual não sei explicar a razão de sua infinita dimensão. E nem preciso conhecê-los, nem tão pouco tocá-los... eu simplesmente os amo. E mais ainda, percebo que entre eles e eu existe um canal especial de comunicação, uma linguagem compreendida e sentida, uma empatia inexplicável.
          Por ter em mim esse amor verdadeiro por todos os animais,mas com afinidade especial com cães, sempre tenho mais de dois em minha casa, aos quais dedico de coração todo o meu amor. E  cada um deles ao chegar na minha vida, tem uma história que tocou meu coração e por isso, deixa uma marca singular  na minha alma, a qual me transforma pra melhor. Assim, cada sentimento meu é tatuado pelo amor especial de cada um desses cães, que, ao meu ver, pensam, entendem e amam, mas claro, que é de acordo com sua biologia, porém misturado as características psico-afetivas do seu dono ou dona. E pelo fato de tanto ganhar, cuidar e um dia sofrer a perda  desses preciosos amigos, hoje resolvi contar uma linda e sensível história de amor  entre eu e uma cadela vira-lata, a qual e dei o nome de Suzy e  que por vários anos me fez mais feliz.
              Essa história começou assim...
             Um certo dia, há 12 anos atrás, numa manhã de domingo, eu estava indo com meu filho e minha filha, na época, ainda crianças, para a igreja, onde iríamos participar da escola dominical, um ato rotineiro de nossas manhãs de domingo. Mas naquele dia, algo mais aconteceu... antes de chegarmos na igreja, minha filha me chamou atenção para um grunhido dentro de umas plantinhas que ficavam numa calçada de uma casa desabitada, nas proximidades da igreja. E ao nos aproximarmos, ficamos sensibilizados com duas pequeninas e indefesas cadelinhas abandonadas, sem ainda nem saber andar direito. Elas eram tão pequenas que cabiam nas duas mãozinhas da minha filha. Naquele momento nós três nos olhamos e nos perguntamos : E agora?  O que vamos fazer? E as duas crianças que sempre conviveram e amavam muito os animais, disseram em coro: Vamos levar elas duas lá pra casa! Mas tinha um porém, já tínhamos dois cães e muitos gatos, sendo assim, o meu esposo, com certeza não aceitaria mais um. E por vários minutos conversamos,  enfim, decidimos que elas iriam conosco... e Deus daria um jeito. E foi uma cena magnífica! Cada uma das minhas crianças pegou uma cadelinha e com todo carinho lhe afagou e seguimos para o culto dominical.
              Ao chegarmos na igreja, chamamos atenção de todos com aqueles singelos presentes. Naquele dia as crianças nem ligaram para o culto, estavam entretidos com as cadelinhas e também indignados com a malvadeza feita com as mesmas. E ainda preocupadas com a possibilidade do pai delas não aceitá-las e mandar colocá-las onde as encontramos. E por isso, confesso que eu também estava angustiada, pois não sabia o que iria acontecer. Mas Deus estava conosco!

             E quando chegamos em casa, meu marido, não aceitou, mas diante da aflição das crianças, acabou cedendo e ficamos com as duas. Logo em seguida, a vizinha vendo nossa situação com tantos animais, resolveu ficar com uma delas. E as crianças com binaram comigo pra ficarmos com a mais magrinha, fraquinha e feia, pois segundo eles, era melhor doarmos a bonitinha, porque assim, ela seria mais amada, enquanto a gente iria salvar aquela que talvez ninguém quisesse. E resolvemos do jeito que eles me pediram. Ficamos com uma frágil cadelinha, a qual,eles logo batizaram por Suzy, ela era pretinha e parecia um rato, fora nós três, ninguém acreditou que a mesma sobrevivesse.
          Naquele dia, banhamos ela, enrolamos numa toalhinha e a secamos cuidadosamente, depois ficamos com ela ao sol para se aquecer, pois tremia demais. Em seguida a colocamos pra dormir num cantinho e nem acreditamos no que vimos depois de algum tempo, a mesma tinha se aconchegado em uma gata que estava com filhotes e mamava tranquilamente no seu peito, enquanto a gata a lambia. Essa foi a cena mais bonita que já presenciamos aqui com os nossos animais. E por alguns dias ela continuou mamando na gata, porém, logo cresceu e a coitada da gata não a suportava mais devido o seu tamanho e a sua força... então começou a empurrá-la pra longe dela. Mesmo assim, ainda insistimos por poucos dias. E segurávamos a mesma pra que Suzy, mamasse. Mas a razão nos fez desistir. E Suzy, mesmo sem o leite materno, cresceu rápido, ficou preta com rajas amarelas e se tornou uma linda e sabida cadela. Uma cadela adotada pelo o amor de uma família e de uma gata chamada Gremily.
           Lá em casa, todos nós amávamos os três cães, mas o amor de Suzy ocupou um pedaço especial de meu coração. E foi a mim quem ela escolheu pra ser sua dona. E eu me sentia sua mãe, mãe de coração. A medida que o tempo ia passando, Suzy nos surpreendia com sua inteligência e amor para conosco. Ela se mostrava muito feliz e amorosa. Era sempre assim, muito feliz e fazia tudo para nos agradar, principalmente a mim.
             Quando eu estava em casa, ela só queria ficar perto de mim, ou no mínimo num lugar onde pudesse me ver. E todo dia me recebia pulando de felicidade e me dando abraços e cheiros, pois sentia que eu não aceitava bem as lambidas. Muitas vezes a colocava comigo em minha cama, e ficava assistindo tv, conversando com ela e lhe dando carinho. E ela se mostrando demais somente  para me retribuir. Sua linguagem eu aprendi a decifrar  com clareza. As formas diferentes de abanar e posicionar a cauda, como também seus tons de latidos, pra mim, cada um tinha um sentido específico, como medo , felicidade, raiva, dor etc. E eu conseguia ler e lhe atender em cada uma de suas manifestações, até mesmo do seu olhar e do movimento de suas orelhas.
        E nessa linda história de amor, não era só eu que a compreendia, ela também entendia meus sentimentos e diferenciava seu jeito de agir de acordo com eles. Se eu estivesse alegre, seu corpo dançava de felicidade e seus olhos brilhavam, feito duas brilhantes jabuticabas, ela grunhia e me abraçava, corria desesperada, pegava flores e brinquedos e me trazia na boca, convidando-me para brincar. Toda vez que eu armava uma rede e me deitava pra ler, lá vinha ela se esfregar devagarzinho na rede para que eu sentisse seu amor e calor. E assim continuava até que eu conversasse com a mesma e a mandasse se deitar. Aí, ela ficava deitada debaixo da minha rede. Quando a tristeza me visitava, era ela quem primeiro percebia e vinha até a mim, se esfregando e grunhindo com jeito muito triste, não falava, mas sei que me perguntava o que eu tinha. Se alguém por acaso ficasse brigando ela entendia, encolhia a cauda para dentro das pernas, murchava as orelhas e ficava muito tristonha. Outro fato interessante, acontecia toda vez que ela escavava as plantas do jardim, pois quando eu chegava, ela ia me dizer, pulava  e grunhia diferente, saindo na carreira até o lugar da bagunça, aí ficava me olhando e começava a me bajular,como se estivesse  pedindo desculpas. Isso, ela fazia com todos da casa. E se a gente, não lhe bajulasse também, ela começava a latir bem alto em desespero, até ser atendida. Era lindo demais tudo o que ela fazia.
                   Essa relação de puro amor durou sete anos. Um tempo breve, mais intenso pra todos da família. ela se sentia muito feliz e adorava tirar fotografias. Quando eu pegava a máquina, se exibia toda, acho que sentia minha preferência por ela, mas essa tal preferência, não era premeditada, penso que tinha a ver com a história dela. Durante sua vida, ela adoeceu várias vezes, pois como não foi amamentada por sua mãe cadela, era fraca. E toda vez que ficava doente, a gente cuidava dela com amor e carinho, lhe dando todos os cuidados médicos. Enquanto estava enferma parecia me dizer que eu não me preocupasse, pois iria sarar. E isso acontecia. Em poucos dias lá estava minha doce vira-lata completamente recuperada e esbanjando felicidade. Mas um dia, ela ficou doente e por mais que a veterinária a tratasse, ela não melhorava e perdeu a alegria. Não houve jeito. Um dia depois de ser visitada pela veterinária, ela morreu. E eu fiquei tão triste que não a vi mais. Resolvemos enterrá-la aqui no nosso quintal, pois ela adorava este lugar. Depois de alguns meses, mandei fazer um canteiro no local e plantei lindas roseiras. Hoje, das energias de seu corpo, crescem plantas e desabrocham pra mim lindas flores. Além disso, todo dia, um lindo colibri vem alegre, beijar cada flor e me encantar com a beleza e a  presença do amor de Deus. Minha relação afetiva com ela era tão sublime, que depois de 05 anos, não posso olhar suas fotos, que me desmancho em pranto. E sempre que tentei escrever esta história não suportei, mas hoje,m resolvi que assim mesmo, escreveria. E consegui! Mas chorei do início ao fim, um choro de pura saudade...  Penso que só é capaz de entender esse sentimento, a alma que consegue amar de verdade a vida animal e principalmente quem tem uma relação de amor para com seu cão.  E ainda ressalto que desde criança, amei e perdi vários cães, por todos sofri, mas por ela foi diferente. Talvez essa perda me aconteceu num período de problemas com a adolescência dos meus filhos, coincidentemente eu estava vivenciando o luto pela perda da infância dos meus pequenos, que aconteceu justamente junto com o convívio dela. Bem, não sei ao certo, a razão de meu grande apego por ela, mas tenho uma única certeza, essa frágil cadela vira-lata, Deus colocou no nosso caminho com o propósito  de nos fazer mais feliz e ampliar de formas infinita o espaço pra abrigar e fazer desabrochar o amor em nossos corações.
***
Maria de Fátima Alves de Carvalho - Poetisa da Caatinga
Natal, 13.01.09
Texto do meu livro "Palavras Singelas e Encantamentos..."
Dedicado a  minha Suzy
  Uma linda e amorosa cadela vira-lata  que encontramos na rua.
    
                
                    
                        
          

Maria de Fátima Alves de Carvalho
Enviado por Maria de Fátima Alves de Carvalho em 14/01/2009
Alterado em 16/08/2020
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